Ultimamente tenho observado ao meu redor crianças com muitas atividades extras, não sobrando tempo para elas se divertirem. E quando tem esse tempo, estão usando computadores, tablets ou smartphones. Será que isso é certo?
Lembro-me que na minha época de criança, pra começar, não tinha smartphone, celular é o que chamávamos de “tijorola” e só servia mesmo para fazer ligação. Era raro uma casa que tinha um computador, internet então, só comecei a usar pouco antes de entrar no ensino médio, e era discada, só usava para fazer alguma pesquisa para trabalho escolar. Não existia tablet nem smatphone.
Eu não era daquelas crianças que ia brincar na rua ou com vizinhos, meus pais foram sempre muito cautelosos, e prezo muito isso. Tive uma infância muito feliz! Moravamos em casa, então andávamos de patins, bicicleta, patinete. Eu e meus irmãos brincávamos de casinha, de escolinha, de tudo que a gente podia imaginar e inventar. A melhor casa que moramos foi uma que tinha um quarto para nossos brinquedos, um quintal enorme, e nela criamos vários bichos. Nós tivemos coelhos, periquitos, codornas, uma tartaruga e uma cachorrinha que até hoje me deixa muitas boas lembranças e saudades, nossa Cofap Flexinha (na verdade a raça é Dachshund, mas sempre chamamos de Cofap, rsrs).
Não via a hora de chegar as férias e ir pra casa da vovó, na roça. Eu, minha irmã e minhas primas combinávamos com antecedência de irmos todas na mesma época para brincarmos juntas. Brincávamos de casinha, de subir em árvore, de explorar todos os cantos do quintal, de pique-pega, pique-esconde, pique-fruta, pique... E as delícias que a vovó fazia pra gente?! Que maravilha!
Em casa, assim que surgiu TV a cabo, meu pai colocou, mas tínhamos horários para assistir. Com vídeo game era a mesma coisa, tinha dia e horário certo. Nos divertíamos muito, mas tudo dentro de limites. As lições de casa, os estudos e qualquer atividade escolar tinham que estar em dia. As únicas atividades extraclasse que eu tinha era inglês, duas vezes por semana, e natação, também duas vezes por semana. Quando fomos crescendo e entramos no ensino médio, as atividades aumentaram também. Mas aqui o nosso foco é infância.
As crianças têm muitas atividades desde muito novas. Inglês, música, dança, espanhol, natação, etc. Têm algumas que já passam o dia todo na escola e ainda fazem algumas atividades extra a noite. Quando essas crianças têm tempo para brincarem?
Criança tem que brincar, tem que ser criança. Precisam conviver com outras crianças, precisam descobrir o mundo por elas mesmas. Minha infância foi vivida de forma intensa. Eu tenho passado muito isso para meus filhos. Sempre que podemos, vamos lá pra casa dos meus avós, na fazenda, pra eles brincarem, verem bicho, terem contato com a natureza. E eles adoram! Quando podemos, os levamos a lugares onde eles possam brincar, correr, gastar as energias. Quero que meus filhos se divirtam, brinquem e aproveitem enquanto pequenos, pois essa fase logo passa.
Nós priorizamos brinquedos no qual eles usam a criatividade, nada de eletrônico. Lego é o favorito. Claro, minha filha adora bonecas e meu filho carrinhos. Eles se divertem e inventam brincadeiras. Eles também amam livros! Em alguma eventualidade, liberamos o smartphone com os aplicativos próprios para idade deles, geralmente quando saímos e precisamos que eles fiquem mais quietos, como quando vamos ao médico ou algo do tipo (nós entendemos que a natureza da criança é ser inquieta, muito ativa, curiosa, e tem lugares que não dá para ficar correndo, gritando e fazendo bagunça). Mas em casa não tem tablet nem smartphone.
Pode ser que nós estejamos sendo caretas, sei que fazemos diferente da maioria dos pais que conhecemos. O que queremos é que eles sejam crianças, e criança que é criança, às vezes cai, machuca o joelho, fica suja de terra, usa a imaginação, conta história, tem boa vibração, é ativa.
Espero que cada dia mais crianças sejam crianças, para que quando crescerem, sejam adultos responsáveis, e nunca digam que não tiveram infância e que por isso tem traumas na vida adulta.
Que seus filhos sejam crianças o quanto puderem ser!
Um grande abraço a todos e até breve.
(Publicado inicialmente em 07/05/2016 - maeaventura.com)